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Caminho Cultural de Cabril

Caminho Cultural de Cabril, percurso de pintura mural na freguesia de Cabril, é uma iniciativa da Junta de Freguesia. A ideia e vontade foi de Márcio Azevedo, Presidente da Junta de Cabril, que  encontrou no mobiliário urbano – oito paragens de autocarro e um reservatório de água – o suporte ideal a ser intervencionado. Conhecedor da região, pensou as intervenções visuais para que, numa linguagem figurativa, representassem temáticas ligadas à história, às tradições laborais e à cultura popular. O projecto tem a curadoria de Susana Antão, ilustradora e designer, que convidou oito artistas, ilustradores e designers a desenvolver as suas propostas. As pinturas murais foram realizadas entre 17 e 23 de Julho de 2021, em contexto de residência artística.

Situada no concelho de Montalegre e inserida no Parque Nacional do Gerês, Cabril é constituída por quinze aldeias que se distribuem ao longo das encostas da cordilheira do Gerês. As pinturas murais foram realizadas no mobiliário urbano de Chelo, São Lourenço, Fafião, Vila de Cabril, Pincães, Lapela, Xertelo e Azevedo.

Os artistas e ilustradores que participaram na iniciativa, sob convite de Susana Antão, foram Luísa Crisóstomo, Bruno Santos, Pedro Lourenço, Susana Antão, Miguel Brum, Carolina Correia, Carolina Maria e Maria Taborda. Cada um teve a seu cargo a criação de um projecto, pensado especificamente para preencher uma paragem de autocarro. O desafio era interpretar visualmente os tradicionais ofícios e actividades da região, tais como a agricultura, o pastoreio, a tecelagem, a gastronomia ou a produção de azeite.

A Vezeira é uma das tradições ancestrais da região. Consiste na reunião dos rebanhos duma aldeia para serem pastorados em terrenos comuns. A comunidade transmite a tradição de geração em geração e os membros das famílias envolvidas conduzem o rebanho à vez. A vezeira das vacas e a vezeira das cabras têm regras e períodos de realização específicos e constituem-se como um dos mais marcantes exemplos de trabalho comunitário. Nesse sentido, três das paragens de autocarro tiveram como tema a vezeira. Luisa Crisóstomo, em Chelo, interpretou de forma gráfica a subida da vezeira, destacando o chamamento que lhe dá início e o ambiente e paisagem do percurso seguido com os bovinos. Pedro Lourenço, com um desenho de carácter gráfico, representou a vezeira das vacas na paragem de Fafião, dando proeminência ao gesto do pastor com as mãos sobre o cajado e ao pastoreio das vacas nas escarpas da serra. A vezeira das cabras, representada na paragem da vila de Cabril, coube a Susana Antão, que ilustrou de forma poética o pastor com os seus cães, o pastoreio da cabras e uma cabra que observará em permanência quem por ela passará.

A utilização de animais no auxílio das diferentes actividades tradicionais ligadas à agricultura e à alimentação da comunidade foi também um tema destacado. A produção tradicional de azeite foi representada em São Lourenço por Bruno Santos, ‘Mantraste’, que reproduziu a dinâmica sequencial das tarefas inerentes à actividade, como a apanha da azeitona, a rotação do lagar de tracção animal, realizada usualmente com um burro, o despejo do azeite nas vasilhas e a sua utilização doméstica, criando esse ritmo na pintura mural através da utilização de símbolos gráficos e da palavra – “As voltas e voltas que o azeite dá”. Carolina Correia teve a seu cargo a representação das actividades inerentes à recolha do milho na paragem de Lapela. A junta de vacas com carro e carga de milho, o corte e o carrego do mesmo são ali desenhados a par do destaque à planta. Miguel Brum fez da paragem de Pincães uma silha dos ursos, antigas construções em pedra, geralmente circulares, onde tradicionalmente se protegiam dos ursos os cortiços das abelhas. Embora actualmente em desuso e em ruínas, é ainda possível observar algumas destas construções. Na vila de Cabril, o reservatório de água foi pintado colectivamente, povoado pelos gestos e ferramentas que identificam a sementeira, a cegada e a malhada, tarefas agrícolas que pelas suas características e dureza são realizadas em comunidade pelos habitantes das várias aldeias.

A tecelagem e a cozinha, actividades tradicionalmente realizadas por mulheres, foram os temas empregues nas paragens do Xertelo e de Lapela, respectivamente. O tear, utilizado sobretudo pelas anciãs viúvas das aldeias de Cabril foi o motivo ilustrado por Carolina Maria. Já a cozinha tradicional, com os respectivos utensílios e lareira de chão, povoada essencialmente por mulheres, foi representada por Maria Taborda através de uma linguagem expressionista e gestual.

Todos os projectos de pintura mural foram concebidos antecipadamente, embora em contexto de residência artística não seja usual assim acontecer. Ainda assim, a residência não foi utilizada exclusivamente para a execução das pinturas. O encontro com os habitantes tornou-se regular, proporcionando conversas, partilhas, convívio e uma experienciação mais completa do lugar, com a paisagem e suas características mas também com as vivências da comunidade. Uma experiência que conduziu a algumas alterações nos projectos iniciais mas que conduziu, sobretudo, a uma aprendizagem dos modos de vida e de sentir de Cabril, uma freguesia com pouco mais de quinhentos habitantes.

Lapela

Aqui em Lapela a cozinha tradicional, com os respectivos utensílios, a lareira de chão, o escano, o pão e as matriarcas da família foi representada por Maria Taborda através de uma linguagem expressionista que tão bem descreve a vida numa cozinha do Barroso.

Azevedo

Carolina Correia teve a seu cargo a representação das atividades inerentes à recolha do milho na paragem de Azevedo. A junta de vacas com carro e carga de milho, o corte e o carrego do mesmo são ali desenhados a par do destaque da planta nas laterais da paragem.

Xertelo

O ciclo do linho está ilustrado na paragem de Xertelo pela mão de Carolina Maria.
A flor do linho nas laterais, o fio na roca e o tear onde as anciãs agilmente trabalham com as mãos e pés o tear onde a teia e a trama se cruzam para produzir trabalhos simples ao mais elaborado.

Chelo

Luisa Crisóstomo, em Chelo, interpretou de forma gráfica a subida da vezeira, destacando o chamamento que lhe dá início no dia 1 de maio e o ambiente e paisagem magnífica do percurso seguido com os bovinos.

São Lourenço

A produção tradicional de azeite foi representada em São Lourenço por Bruno Santos, ‘Mantraste’, que reproduziu a dinâmica sequencial das tarefas inerentes à atividade, como a apanha da azeitona, a rotação do lagar de tração animal, realizada usualmente com um burro, o despejo do azeite nas vasilhas e a sua utilização doméstica, criando esse ritmo na pintura mural através da utilização de símbolos gráficos e da palavra – “As voltas e voltas que o azeite dá”.

Reservatório

Este reservatório de água foi pintado coletivamente, povoado pelos gestos e ferramentas que identificam a sementeira, a cegada e a malhada, tarefas agrícolas que pelas suas características e dureza são realizadas em comunidade pelos habitantes das várias aldeias.

Vila

Nos primórdios da freguesia os povos dedicavam-se quase exclusivamente à pastorícia com a criação de cabras que daria o nome a Cabril, que tem a origem no latim “caprile”(curral de cabras). Assim a Vezeira das Cabras está representada na paragem da Vila que coube a Susana Antão, ilustrar de forma poética o pastor com os seus cães, o pastoreio da cabras e uma cabra que observa em permanência quem por ela passa.

Pincães

Miguel Brum fez da paragem de Pincães uma silha dos ursos, antigas construções em pedra, geralmente circulares, onde tradicionalmente se protegiam dos ursos os cortiços das abelhas. Embora atualmente em desuso e em ruínas, é ainda possível observar algumas destas construções.

Fafião

A paragem de Fafião esteve nas mãos de Pedro Lourenço, com um desenho de caráter gráfico, representou a Vezeira das Vacas. Dando proeminência ao gesto do pastor com as mãos sobre o cajado e ao pastoreio das vacas nas escarpas da serra.