Cabril é uma freguesia que está inserida totalmente no Parque Nacional Peneda-Gerês, logo todas as aldeias, são aldeias de montanha que sempre viveram e continuam a viver essencialmente da atividade agropastoril, por isso não é de admirar que a Serra do Gerês, fosse um importante complemento dessa forma de vida, seja com pastagens, pois os animais também faziam a transumância a partir do dia 1 de Maio até ao 29 de Setembro, assim como no cultivo do centeio e do colmo, este último essencial para a cobertura das casas, o telhado da época.
Por isso grande parte dos currais e das cabanas da Serra do Gerês, são pertence das várias populações de Cabril, mas as populações ao contrário da Serra da Peneda e da Serra do Soajo, sobretudo em Castro Laboreiro, concelho de Melgaço, e Soajo, concelho de Arcos de Valdevez, nunca construíram brandas, que são núcleos habitacionais temporários cujo a origem se prende com a necessidade das populações utilizarem os pastos na serra para alimentarem os animais.
As pessoas de Cabril, sempre optaram por ter residência fixa nas várias aldeias, só ficando a viver na serra os vezeireiros, e só na altura da transumância dos animais, esporadicamente algumas pessoas quando iam lavrar e semear os currais e quando era para se fazer a colheita do centeio e do colmo. A única pessoa que teve o que eu vou chamar, uma “mini” branda, foi o “Ti” Secundino.
Ninguém sabe dizer de onde veio o homem, apesar de ainda existir muita gente que o conheceu. Dizem que apareceu em Cabril com uma filha, pois antigamente aparecia assim muita gente que ficava a dormir nos palheiros. Havia muitos pobres, muita gente a fazer esse modo de vida. Ninguém sabia qual era a terra dele, alguns dizem ser de Cabeceiras, outros de Fafe e ainda aqueles que afirmam ser de Celorico. Veio para Cabril como resineiro e acabou por ficar fixando residência no lugar de Cavalos, no sítio da Balteira e por lá ficou, até que teve a possibilidade de comprar uma parcela de terreno a comissão fabriqueira de Cabril. Porém, o que o pedaço de terreno era muito longe das aldeias, demasiado longe, e estava localizado em Taboucinhas, mesmo no começo da serra. Isso não o desanimou o “Ti” Secundino, que murou o pedaço de terreno, cavou, lavrou, procurou água, fez duas poças, construiu casa.
O homem passou a morar em Taboucinhas, cultivava batatas e milho à época, couves, vinho, tinha árvores de fruto, chegou a criar porcos e galinhas. Apesar de ter a residência na aldeia de Cavalos, o “Ti” Secundino e o seu burro, só desciam quando as condições eram muito adversas.
Com a morte do “Ti” Secundino, tudo em Taboucinhas e na sua “mini” branda morreu. A casa acabou por arder, restam as paredes. As cerejeiras caíram, as vides morreram, as couves e as batatas deram lugar a silvas, tojos e fetos, sinais do tempo.
O povo do Vale de Cabril, como muitas outras aldeias de montanha ,estiveram muito tempo isolados e sem acesso às estradas e a luz eléctrica, o êxodo rural fez-se notar de uma forma avassaladora, nas décadas de 60 e 70 do século passado, trouxe uma nova realidade, foi a fuga em massa do povo na procura de melhores condições de vida, fugiam a salto, enfrentavam o desconhecido, entregavam a sua vida aos passadores, muitos deles sem escrúpulos, fugiam a pé pela montanha, tudo era válido para fugir de uma vida de trabalho e sacrifícios, fugiam da miséria da fome, devido ao isolamento, tinham sido esquecidos pelo país, pelas sedes de distrito…Por todos.
Os campos foram abandonados, deixou de haver gente para os trabalhar, só ficaram os velhos, pois a idade já não permitia grandes aventuras, foi por esta altura que os currais da serra do Gerês deixaram de ser semeados, pois deixou de haver gente para tão árduo trabalho.
Os currais eram semeados nos fins de Setembro e Outubro, que coincidia com a descida da vezeira em direcção às várias aldeias, era também a altura em que os currais ficavam estrumados devido a permanência dos animais, por norma o gado dormia nos currais que eram para lavrar, isso já era uma competência do vezeireiro, era ele que tinha a missão de fazer dormir lá os animais, pois os currais que eram para semear eram escolhidos previamente.
Os currais eram lavrados antes da descida dos animais, aproveitava-se a permanência destes, normalmente o arado e a grade era de uso comunitário e ficava sempre na serra dentro de uma cabana ou debaixo de uma pala para os proteger do tempo.
O centeio era tirado nos fins de Junho, que era quando se faziam as carrejadas, era um trabalho comunitário que envolvia muita gente eram necessário para cima de vinte pessoas, os homens iam quase sempre no dia anterior, que era para ir adiantando trabalho, iam cortar o centeio e fazer os molhos, no dia da carrejada, é que se fazia a romaria serra a cima, os alimentos e o vinho eram levados em cima de uma mula e custeados pelos donos dos currais.
As carrejadas sempre foram pretexto de festa e, sobretudo para comer bem, daí a grande afluência de gente, as segadas e malhadas eram feitas debaixo do sol abrasador de Julho, havia sempre muita gente, o centeio, depois de cortado ia para as eiras improvisadas para ser malhado, na eira havia sempre uma grande competição de dois grupos de malhadores que batiam com os malhos na eira e o som do malho tinha de ser afinado, tinha de ser certo e alto, tinha que “broar” Pela serra adentro, os malhadores corriam a eira ,ora avançando ora recuando, num ritmo e cadência certos, quando se ouvia a palavra “meio” ,o malho ficava na eira estendido e os malhadadores descansavam e bebiam um gole de vinho.
A palavra “meio” significava chegar ao meio da eira.
Depois de malhado o centeio era separado do colmo e limpo e era metido em sacos, o colmo era atado em molhos e era tudo carregado as costas serra abaixo, havia sempre uma grande algazarra, onde eram deitadas vivas a este, vivas aquele, e grandes gritos que entoavam por toda a serra, havia sempre uma paragem que era para beber primeiro e depois descansar que era no penedo do encosto, ao se chegar a Taboucinhas, os gritos e a algazarra aumentava de tom ,que era para se dar a ouvir na aldeia, onde era o ponto alto da festa ,era onde estava a ser cozinhada uma cabra no pote, que seria servida no fim do dia .
O centeio era depois limpo e guardado em grandes caixas de madeira de castanho.
O colmo era aproveitado para fazer as chapelas para os cortiços o mel era uma das fontes de rendimento das aldeias, o colmo também servia para fazer os bancelhos para atar a palha e o feno, para encher os colchões das camas e para colmar as casas e os palheiros.
Durante muito tempo a Freguesia de Cabril foi praticamente inacessível e as suas aldeias encravadas nas serranias do Gerês, com caminhos de ligação entre elas quase impraticáveis e muitos desses caminhos a passar em linhas de água que no inverno se tornavam difíceis de ultrapassar, fez com que estes pequenos povoados fossem deitados a um isolamento forçado que acabou por se refletir nas pequenas aldeias agro-pastoris que acabaram por se tornar sustentáveis com muitos poucos recursos ,e acabaram votadas a um comunitário quase forçado para poderem subsistir ,ninguém vivia bem ,mas havia aqueles que viviam menos mal, vivia-se exclusivamente da terra e da criação de animais, quase tudo era produzido na aldeia até meados do século XX.
O comunitário refletia-se nas divisões da serra, nas pastagens, vezeiras, nas águas ,assim como nos moinhos e lagares de azeite, o primeiro lagar de azeite a ser construído na freguesia de Cabril foi feito por volta dos finais do seculo XVll e princípios do século XVIII por Manuel Machado filho do abade Braz Pereira Magalhães ,que o fez por cima do lugar de S. Ane e por baixo de T
Taboucinhas por ali haver muita lenha ,pois nessa altura a lenha era um bem raro e muito procurado era a principal fonte de aquecimento das habitações e a fogueira ardia nas casas praticamente 24 horas o que levava a um enorme consumo de lenha ,mas devido ao difícil acesso e a elevada distância ele acabou por mudar o lagar para debaixo de Chão de Moinho e moía com as águas que desciam da corga de moinhos, logo de seguida foi construído outro junto à ponte nova por Domingos Alves, provavelmente seria o que foi mudado para as Olas na altura da construção da barragem de Salamonde, em Fafiao também é edificado um pôr um tal Bonifácio de S.lourenço juntamente com Alexandre Pereira ,viria a ser feito um outro no lugar de S.Ane, e os moradores de Azevedo, Xertelo e Lapela também construíram um ,no lugar de S.lourenço ,há conhecimento de um feito em meados do século XX, e que tinha a particularidade de moer com recurso a tracção animal ,normalmente era utilizada uma vaca para esse fim.
Neste momento nenhum destes lagares esta a moer, e para alguns será quase impossível que o voltem a fazer, o único que ainda funciona é o do lugar de Pincães que cada vez tem mais gente da aldeia a voltar a fazer o seu próprio azeite, este ano foram necessários dois dias para processar a azeitona, e voltou a ver-se os habitantes de algumas aldeias na apanha da azeitona, curiosamente o lagar de Pincães não se conhece a data nem registos da sua edificação.
A nossa história está cheia de lendas e milagres, principalmente nas aldeias serranas e mais isoladas, e muita da toponímia desses lugares está associada a esses fatores tanto para o sagrado como para o pagão , mesmo quando se consulta documentos antiquíssimos, e quando os mesmos se referem a sítios e lugares que lhes é difícil explicar a sua origem, logo são ligados à existências sobrenaturais, seja para o bem ou para o mal, ou simplesmente na linguagem popular “são antigos, são do tempo dos Mouros.”
Se há lugar que contêm todos esses ingredientes, é o lugar de S. Ane, uma pequena aldeia situada no vale de Cabril e encravada nas serranias do Gerês.
Segundo a lenda S. Ane e o vale de Cabril tiveram como primeiros habitantes dois irmãos que andavam a cavalo a procura de terras férteis e desertas de gente, e quando chegaram ao vale de cabril, fizeram aí seu assento e repartiram o rio de Cabril, ficando um de um lado mais os cavalos, daí o nome da aldeia de Cavalos, e o outro em S. Ane em frente um do outro, mas o de Cavalos ficou com a melhor parte do Vale o que obrigou os de S. Ane a subir as montanhas do Gerês em busca de mais terrenos de cultivo, por isso não é de estranhar que grande parte dos currais da serra do Gerês sejam pertença de famílias do lugar de S. Ane e do Vale de Cabril.
O lugar de S. Ane deve o seu nome a S. João Baptista, segundo a lenda havia uma pedra entre Cavalos e chãos que continha manchas de sangue de S. João e nessa pedra em tempos os do Vale de Cabril, resolveram fazer a primeira capela dedicada à S. João, e lá colocaram a imagem do santo, mas no outro dia não o encontraram, mas sim do outro lado do rio, e voltaram a repetir a diligência, mas de nada adiantava, e então resolveram fazer a capela para onde o santo fugia, essa capela e o S. João, veio dar o nome a aldeia de S. Ane, que em vários documentos antigos é referida como santo Joannes ou Joane ou ainda st. Anne.
O S. João Baptista passou a ser venerado pelos de S. Ane e os lugares vizinhos do Vale de Cabril que tinham o seu próprio dia no mês de julho em que veneravam e hospedavam nesse dia o melhor que podiam os inúmeros romeiros que iam visitar o S. João, a capela tinha mais dois Santos que era santo António de Lisboa e Santa Bárbara.
A capela tinha outra particularidade, é que tinha de estar sempre de portas abertas, tanto de dia como de noite, pois segundo a lenda estando de portas fechadas se ouvia barulhos estranhos e sinais de grande agitação e luta e com as portas abertas tudo se acalmava e ficava em paz.
A data da saída da capela do lugar de S.Ane não consegui apurar mas foi antes de 1756, pois não há ninguém que se lembre de ela existir, ou se lembre de conhecer alguém que se lembrasse.
segundo a tradição oral a razão do seu desmantelamento é que S. João era efusivamente festejado pelos de S. Ane e restantes lugares do Vale de Cabril, com as típicas brincadeiras e patifarias de S.joao e isso fazia com que dessem cabe dos milhais e das batatas e renovos das veigas de S. Ane e então os habitantes do lugar fartos disso tudo pegaram nos Santos e foram colocá-los na igreja matriz , o que é certo é que S. João gostou do seu novo lar, pois não voltou a fugir para S.Ane.
Registos históricos :
“[…]o lugar de cavallos assim chamado pella tra-/ diçao que há de dous irmãos que vinhao / cada um em seu cavallo a buscar terras dezoucupadas de outros moradores […]chegando aquelle vale de Cabril ali fi-/zeram seu sítio […]repa-/tindo a ribeira e ficando hum em/ cavallos e o outro em S. Anne defronte hum do/ outro donde falavam hum P(ar) o outro[…]”
[…] o lugar de São Anne chamado assim de S(an)to Joannes porque tem ali os moradores deste lugar / dentro nas suas terras que cultivam tapadas e junto / as ortas delles huma antiga capela dedicada ao sagrado procurçor s(enho) r S. João Baptista (…)que mistos com outros (lugares) visinhos festejao / no mês de Julho o seu proprio dia com m(ui)ta/ venda(eraç) am e amor[…] tem ali também /s.Antonio de Lisboa e s(an)ta Barbosa fica este lugar(a)r/ ao longo do rio de cabril que desse das entranhas do Gerês […]
[…] he tradição que está cap (el) a foi feita p(ar)a s.joao /da outra p(art) e do rio de cabril e collocado nella / o não acharão o outro dia mas sim naquelle /lugar onde hoje se acha e assim repetiram a-/quella de o tornar a capela e tudo era/ em vão athe que se resolveram os daquelle valle de cabril a fazella no lugar de S. Anne /p(ar)a onde S. João Bapt(is)ta fugia e ali o venerao /de tempo emmemorial he também tradição q(ue)/não ali S. João que esteja a porta da sua/capella fechada mas patente aos romeiros que vão vez(it)ar porque estando a capella fechada/se ouve dentro huma grande bulha e ro-/boliço e abrindo-se a cap (el)a fica tudo quieto /e em pas /[…]
[…]he também tradiçam que junto ao lugar /de chaons, entre chaons e cavallos se acha /huma pedra antiga salpicada de/sangue que se não pode haver daquella /pedra se ali hera o lugar(a)r donde queriao que/fosse a capella antiga que tinham dedicada //a são João Baptista […]
BAPTISTA, António Martinho a partir da transcrição de 1813 de Bernardo Antunes Pereira do manuscrito de 1744.
O Lobo sempre foi uma figura envolta em lendas e superstições ao longo da história, nas aldeias serranas este predador foi gerando mitos e contos assombrosos, muitas das vezes repetidos e ampliados nas longas noites de inverno, sobre o crepitar das fogueiras aos sempre animados serões.
Os povos das várias aldeias da freguesia de Cabril, que grande parte deles vivia da pastorícia, nunca manteve um relacionamento pacífico e a coexistência foi sempre muito ténue, o lobo desde sempre foi considerado um animal destruidor de rebanhos, feroz e que matava por prazer tanto os animais miúdos, como os de grande porte cavalos e vacas e muitas das vezes iam aos animais domésticos como os cães.
Era também um animal que o povo acreditava que transmitia a doença da “lobagueira ” que somente se manifesta no porco doméstico, nalgumas aldeias do Barroso ainda existe a “gola do lobo ” que é um pequeno troço da traqueia do lobo, que servia para curar a tal peçonha, o povo dizia que quando os bois orneavam de noite era porque o lobo andava por perto, os dias chuvosos e de nevoeiro cerrado ,eram dias que era preciso redobrar a atenção, era quando eles aproveitavam para atacar ,nesses dias o povo dizia e diz -“hoje é dia de lobo”.
O Lobo foi e sempre será um animal lendário, quase sempre perseguido, muitas poucas vezes compreendido e muito menos respeitado, foi sempre um símbolo de crueldade e de sangue.
Os povos da serra do Gerês combatiam-no, eram organizadas batidas, que eram sempre muito concorridas, quer por graúdos como por miúdos ,enquanto os homens se colocavam nas esperas e nos pontos altos das fragas, os mais novos iam fazendo a batida, ora tocando nos cornos e nas buzinas, alternando com o bater de mato e latas, e com grandes gritos como só os homens da serra o sabem fazer, sempre a espera que o bicho deixasse o seu esconderijo e fosse de encontro aos homens que os esperavam avistar do alto das suas esperas.
Estas batidas foram proibidas pelo decreto -lei 193/90 de 27 de Abril que veio regulamentar a lei 90/88, que estipula a proibição de matar, maltratar ou outras formas de contribuir para a extinção dos lobos.
Nas comunidades mais isoladas e embutidas no meio da serra e de difícil acesso, essas batidas realizaram-se até bem mais tarde.
Quando um lobo era morto, o que era raro ,tornava-se um motivo de festa e enorme regozijo nas aldeias e suas populações, a quem os participantes nas batidas faziam questão de o mostrar e fazer desfilar, na maior parte das aldeias, eram recebidos com uma salva de tiros, toda a gente saia de casa ,novos e velhos faziam questão de ir ver o bicho ,muitos ofereciam dinheiro e géneros alimentares, outros maltratavam e preferiam enormes palavrões, tal era o ódio e a repugna que eles le tinham, o atirador virava herói, o nome passava a ficar eternizado, pois era muito raro matar um lobo, ainda nos dias de hoje são comentados e lembrados os nomes de vários matadores de lobos, que já faleceram a dezenas de anos ,muitos deles só são recordados pelo nome ou apelido, pois eram homens de um tempo muito antigo, um tempo que já quase ninguém se lembra, eram os descendentes daqueles que construíram os fojos para combaterem os animais carnívoros, o que implicava um grande engenho e muita mão de obra ,são paredes com dois metros de altura , o que implicava a mobilização de toda a aldeia ,eram milhares de pedras carregadas a tracção animal, cujo o objectivo era dizimar o lobo que atacava os animais e rebanhos.
Na freguesia de Cabril existem quatro fojos ,todos eles de paredes convergentes, feitos por duas paredes que convergem para um buraco , que implicava que houvesse uma batida que envolvia toda a aldeia e as aldeias vizinhas, os batedores tocavam o lobo para o fojo de forma a ele cair no buraco, que era previamente escondido com vegetação, existem dois fojos de serra alta ,o fojo de Alcântara que está em ruínas e o de Pincães, situado no alto do sobreiro, que foi recentemente recuperado e que é talvez o mais antigo ,visto que possui uma pedra com a data de 1184 ??
Junto às aldeias existem os outros dois, o de Fafião, que também está em excelente estado de conservação, e que é talvez o último a ter uma batida com sucesso, pois no mês de Dezembro de 1948, num dia feio e enevoado e frio, foram abatidos pelo menos três lobos, finalmente existe o de Xertelo, o último a sofrer uma intervenção de recuperação e talvez aquele que tem o registo mais antigo, com 244 anos e que vou passar a citar:
“… Xertello aqui junto a este lugar está um fojo em que se caça os lobos grandes quando lhe fazem montaria que são humas paredes muito largas na entrada que principiao de hum /valle e assim se vão seguindo athé huma Portela, e dahi /estreitando para a outro abaixo e rematao em huma profunda /cova feita por dentro a esquadria mais larga e rredonda /no fundo que na boca a qual tem cuberta e salpi-/cada com urge verde e assim os tangem com muitos tiros /e cães athé os faser cahir naquella cova e lhe não dão tiros se não des que passao para diante para não retrocederem, e tem posto junça (?) Aos que lhe cortão os Matos ou os queimão dentro daquelas paredes para que os lobos /se bam agachado e escondendo as quaes paredes sao /de nove ou des palmos asimbodas (?) Por Sima e por fora /estão alguns monteiros com tiro de pólvora seca./
…concorrem para as montarias deste fojo todos os moradores dos lugares do valle de o cabril S. Lourenço chello /xertello e Azevedo e tem repartidos os postos /tanto para atirar como para bater o monte e dividi-lo /do seu destrito e algum chamando – fojo o fo-/jo que ache signal de lobo dentro daquelles limites que batem com voses tiros e caens para os faser/fugir dos seus ninhos e escondrigios porque sao muito manhosos “
Quanto a mim sempre fui um admirador do lobo e pela sua sobrevivência até aos dias de hoje, apesar dos ferozes ataques contra eles, e representam mais do que ninguém a liberdade e o ser selvagem.
Esta não é a história que me apraz contar, mas lembro as palavras do “Ti” João do Albino do lugar de S. Lourenço, que fala com autoridade do alto dos seus 82 anos: “era tempo de fome e muita miséria, eu lembro-me de ser um rapazote e a minha mãe me mandar soltar os porcos, que andavam as cabeçadas a porta da corte, tinham fome, ela só dizia, ide a vossa vida e governai-vos, eram tempos ruins de miséria, tanto para os animais como para nós.”
Ou então as palavras do “Ti” Manel Barreiro: ” olha eu passei tanto por essa serra, passei frio e fome, não havia nada, era só côdeas de pão milho, comi tanto, ainda hoje não posso ver o pão milho. “
Eram realmente tempos muito difíceis, em que o povo de Cabril, só vivia da terra e dos animais, eram tempos que a serra do Gerês estava cheia de gente, eram os agricultores que tinham o centeio nos currais, espalhados um pouco por toda a serra, era os contrabandistas a fazer pela vida, os guardas fiscais a tentar detê-los, e havia ainda os que se dedicavam a extracção do volfrâmio, o ouro negro, e que fez com que a serra fosse esventrada um pouco por todo lado.
Eram tempos que ser vezeireiro era um privilégio, e não era fácil conseguir esse trabalho, apesar de ser um trabalho sazonal de 3 meses a guardar e pastorear os animais na serra, eram esses 3 meses que garantiam o sustento para o resto do ano, pois o vezeireiro era pago em géneros alimentares pelo resto da população.
E depois havia ainda os carvoeiros, pessoas que passavam muito tempo na serra a arrancar os torgos de urze e a fazer os buracos para o carvão, como diz o “Ti” João da ponte: ” oh pah!! era um trabalho excomungado, era sempre sujo, todo negro, as mãos estavam todas gretadas, mas prontos dava para ganhar alguns tostões. “
O “Ti” João da ponte, fala como uma pessoa conhecedora da realidade, ou não tivesse ele feito muito carvão e dormido muitas vezes nas cabanas da serra, e carregado muito carvão para o depósito no Teixo, é também ele que a determinada altura conta a história do burro que pegou fogo: ” naquela época andava-se a fazer o carvão no Cambeiro, andavam lá dois ou três homens, já não me recordo, e o Custódio do Luís e ele trazia um burro com ele, para o ajudar nas cargas, eles acabaram de fazer o carvão e carregou o burro e pôs outro saco as costas e começou a subir a serra pelo Curral dos Bezerros até à Cidadelha, onde naquela altura estavam a dormir, e era na cabana que guardavam a comida, e ele foi a cabana botar uma bucha, que era para depois subir a Revolta até ao Teixo, onde estava o depósito de todo o carvão feito na serra, também havia lá uma loja que vendia pão e vinho e mais umas coisitas, só que enquanto foi a cabana o burro desapareceu, andou para cima e para baixo e nada do burro, foi dar com ele passado umas horas, todo chamuscado, já perto da Arroçela, estava vento e o carvão não estava bem apagado e pegou fogo, coitado do burro, só parou quando as cordas que atavam o carrego arderam, e ele se livrou do fogo.
Andaram um mês a carregar o carvão as costas até ao teixo, pois o burro teve de vir para a aldeia para recuperar, ainda se queimou bem, eram uns tempos…mas olha que eu ainda me lembro é tenho saudades desse tempo, apesar da miséria, agora para vós é tudo muito fácil, naquela altura não havia nada de nada era trabalhar par sobreviver, era mesmo só para sobreviver… “
P.S. As fotos são de alguns locais da serra onde se fazia o carvão e também de um antigo buraco do carvão.
As várias aldeias de Cabril, nasceram e cresceram encravadas entre pedras e fragas na serra do Gerês, com pequenos núcleos habitacionais encostados a montanha, e que fizeram destes povos um verdadeiro paradigma da sobrevivência desde tempos muito remotos, estas populações tinham na agro-pecuaria a actividade dominante, uma agricultura de minifúndio que era completada com a pastorícia, os animais eram muito importantes ,durante os rigorosos Invernos dormiam por baixo das habitações e eram pastoreados pelos montes paroquiais de cada aldeia e formando a mesma as suas próprias vezeiras.
Quando chegava o tempo ameno e o mês de Abril, era a altura em que as várias vezeiras começavam a subir a serra.
A serra era fundamental aos povos que a escolheram para viver, e o povo quase fazia uma migração para a alta serra ,uns para fazer o carvão ,outros no volfrâmio, havia ainda aqueles que arriscavam a vida no contrabando e na passagem de homens para a clandestinidade, tudo vidas difíceis e muitas das vezes a roçar a miséria, por isso a serra e a montanha sempre esteve enraizada no coração destes povos ,para o bem e para o mal era da serra que vinha a sobrevivência, era onde se ganhava algum dinheiro, de onde se cultivava o centeio, onde se buscava o pasto para os animais, em Abril subiam as vezeiras das cabras, no primeiro dia do mês de Maio ,era a vez da subida da vezeira das vacas, a subida dos bois só ocorria no fim do mês de Maio, tinham de ficar na aldeia, tinham que carrar o esterco para os lameiros, tinham de lavrar e engradar, era na altura em que eram feitas as grandes bessadas que chegavam a ter mais de 20 pessoas de enxada na mão, por isso a serra dos bois era diferente ,era a serra alta que começava a partir da cigarra, tanto a vezeira dos bois como a das vacas tinha o seu próprio vezeireiro que acompanhava e tomava conta deles até ao fim do mês de Setembro eram cinco meses a viver na serra ,a dormir nas cabanas e a olhar pelos animais, só regressava a aldeia no dia 29 de Setembro, a partir desta data os animais deixavam de estar guardados e a responsabilidade do vezeireiro para com eles terminava.
Era nesta altura em que alguns dos donos dos animais optavam por deixar ficar o gado mais quinze dias na serra e criavam os vezeiralhos, que eram pequenos núcleos de animais que ficavam para traz e que eram guardados a vez pelos seus donos, nestas alturas também havia uma maior dispersão dos animais e alguns chegavam-se a perder, o não saber ou perder um animal na serra era sempre encarado como uma preocupação, pois os lobos não andavam a dormir, muitos recorriam as pessoas mais velhas e respeitadas da aldeia para lhe rezar o responso das coisas perdidas ,o religioso e o pagão esteve sempre presente nestes povos ,o responso era rezado de noite e sem o mínimo barulho para não se enganar, e sempre virado em direção a igreja e o responso dito era este:
Santo António se levantou Se vestiu e se calçou, Seus pés e suas mãos lavou, E para o paraíso caminhou, O senhor encontrou, Que lhe perguntou: Onde vais tu António? -senhor convosco vou. -tu comigo não irás, Tu no mundo ficarás, O vivo guardarás, E O perdido encontrarás Pelo hábito que vestiste, Pelo cordão que cingiste, Pelo livro que abriste, Assim como tiraste o teu pai da sentença falsa Livrai (aqui diz-se o que se quer responsar )da má sorte,da morte, de lobos e lobas, raposos e raposas e dos males do mundo Pela honra e glória da virgem Maria um pai nosso e uma avé Maria
Era rezado de joelhos e em silêncio, se quem diz o responso não se enganar o animal não corre perigo, se se enganar, há perigo e é necessário ir logo procurar o animal, antes que algo lhe suceda.
Todos os anos no dia 20 de Janeiro, realiza-se nas aldeias da Baixa de Cabril, uma procissão seguida de um carolo comunitário em honra do mártir S. Sebastião, santo advogado da fome, peste e da guerra.
Como começou a bênção do carolo? Perdeu-se na memória, sabe-se que o mártir santo, é o padroeiro das aldeias da Baixa de Cabril e que todos os anos, o povo o honra com uma procissão a que se segue um bodo comunitário, que é benzido pelo pároco da aldeia. Se em tempos era só o pão de milho, vinho e aguardente em abundância, oferecido pelo povo, era um dia de fartura em que se esquecia a fome, peste e guerra, hoje a mesa é mais farta, mas o povo continua a ajudar a sua realização.
Há alguns anos, S. Sebastião tinha uma festa na sua honra, festa que era rotativa pelas aldeias da Baixa. Se num ano a festa fosse a cargo da aldeia de S. Ane, no ano a seguir caberia a Vila e Bostuchão, no terceiro ano seria a vez de Vila Boa, Fontainho e Chelo e no quarto ano seria a vez de Cavalos e Chãos e finalmente regressaria a S. Ane o ponto de partida.
Hoje em dia só existe a missa, seguida de uma procissão e tem como o ponto alto da festa a bênção do carolo, no qual ocorre muito povo e que faz questão de levar os géneros alimentares e a bebida ou então contribui com dinheiro para que a mesma se possa realizar.
As aldeias de montanha e de cariz agro-pastoril, devido ao seu isolamento e com um contacto muito tardio com a dita civilização, basta lembrar que a luz elétrica só chegou a Cabril a cerca de 40 anos, muitas das estradas vieram mais tarde. Por isso não é de estranhar que a maioria das aldeias ainda guardem lendas e tradições de outra hora e de outros tempos , que eram transmitidas aos mais novos, normalmente aos serões nas rigorosas e gélidas noites de inverno, sempre ajudavam a “matar” o tempo e a tornar as noites longas e frias mais quentes, eram serões animados e muito participativos ,junto à uma enorme lareira, normalmente as cozinhas eram grandes, era o local central da casa, onde se juntava o agregado familiar e alguns vizinhos da aldeia, era nessas alturas que se contavam histórias mirabolantes, histórias de locais encantados, do tempo dos Mouros, sítios de bruxas, a serra do Gerês é muito fértil em tradições orais e lendas , há sempre um local onde se diz que aparece algo, há lendas de locais que contém grandes tesouros enterrados, ou então tesouros que contém um encantamento em que era necessário usar-se o sagrado e ao mesmo tempo tenebroso livro de S. Cipriano (aquelas casas que possuíam o livro guardavam-no como se de um tesouro se tratasse ) o próprio livro refere locais encantados tanto na vizinha Galiza como em locais da serra do Gerês, contam-se histórias de homens que com a ajuda do livro e normalmente acompanhados de um padre , tentaram desfazer alguns encantos, mas pelo medo ou por outro motivo qualquer, havia sempre algo que não corria bem, e os enormes tesouros lá ficavam a espera que apareça outro corajoso.
As lendas sempre fizeram parte dos povos e das aldeias do Barroso, muitas delas cingem-se a lugares individuais ou específicos, é raro ver uma lenda a ligar dois locais tão separados e distantes um do outro, como acontece com o Buraco das Cerves que fica nos Cabeços, logo abaixo da Roca dos Teixos, bem perto da aldeia de Xertelo, e o Canto da Ola que alberga o Poço dos Mouros que era conhecido pelos pastores das cabras por Dornão, o que é lógico, pois segundo o professor Fernando Cosme e no seu livro ” Pela serra do Jurês e ao longo da jeira, história da toponímia ” refere que Dorna terá como a palavra Ola ,o significado de redemoinho num curso de água, escavação circular que esse redemoinho produz no leito rochoso .
Ora o Poço dos Mouros não é nada mais do que isso ,uma verdadeira maravilha da natureza, se bem que aterradora mas ao mesmo tempo tal é a grandiosidade do buraco com cerca de 55 metros de altura, que era evitado a todo custo pelos pastores, não gostavam de la passar ,enquanto que o Buraco das Cerves era segundo a tradição oral uma passagem do tempo antigo do tempo dos Mouros na linguagem do povo, que era uma passagem para o outro mundo, que iria sair ao Canto da Ola ,daí o nome de Poço dos Mouros é tradição também que na sua saída tinha duas enormes padieiras de pedra e um grande portão em madeira e que nos tempos antigos servia de passagem para fugir as guerras, fala-se que várias pessoas tentaram fazer o caminho do Buraco das Cerves até ao Poço dos Mouros, mas que as luzes se apagavam repentinamente, que as lanternas deixavam de dar luz e que pelo meio do caminho havia várias hipóteses em forma de labirinto, a quem diga que também tem uma grande câmara em que entra luz natural e logo de seguida tem duas minas e aí tem de se optar bem para se poder chegar ao Canto da Ola, mas é preciso ter juízo….
Eu já explorei os dois locais nunca encontrei nada…mas também me falta explorar ainda muito mais, daí pensar como os vizinhos Galegos.
O povo de Cabril, assim como os outros povos da serra do Gerês, são comunidades que se fixaram nas ásperas zonas montanhosas e de íngremes serras que acabou por lhe dar um caracter completamente austero e serrano, são pequenos povoados que ficaram encravados e escondidos do mundo e vetados a um isolamento.
Mas foi esse isolamento que fez, e que ainda perdura e que continua a viver dentro de nós, algo da nossa identidade, pois o isolamento a que se esteve sujeito dificultou e criou entraves à entrada de outras formas de vida e culturas, nestes pequenos povoados.
Esse isolamento chegou até bem perto dos finais do século XX, exemplo disso é um relato que fez o Doutor Montalvão Machado na altura delegado de saúde de Vila Real, aquando de uma visita à Freguesia de Cabril em meados dos anos 50, em que ele refere, :” Cabril é uma localidade de estreitos caminhos e carreiros de muito difícil acesso nos meses de verão, e que torna esse acesso impossível nos meses de inverno. “
Por estes motivos, as culturas e tradições dos autóctones perduraram e chegaram aos nossos dias, se bem que com muitas demasiadas percas por este sinuoso caminho.
O Cristianismo foi das que mais rápido conseguiu e se acabou por enraizar, se bem que sentiu ele próprio enorme relutância e dificuldade entre estes povos rurais e do campo e nestes locais ermos e isolados, e nos extratos mais baixos da sociedade o paganismo continuou a existir, é certo que de uma forma mais mitigada, pois os pagãos não se tornaram cristãos da noite para o dia, os padres e sacerdotes passaram a cristianizar muitas festas pagãs, dando – lhes um novo sentido, e em seu lugar foram erigidas igrejas e cruzes da nova fé .
E quando a igreja não conseguia dissuadir o povo das antigas práticas religiosas adaptava, transformando-as em práticas cristãs.
Por isso não será de estranhar a devoção e quantidade de festas dedicadas a S. João, ele próprio um santo muito conectado com o paganismo, nascido a 24 de julho, que coincide seu nascimento com o solstício de verão, que era a época que as populações agrícolas muito anteriores ao cristianismo, como os povos castrejos, celtas e germânicos comemoravam a fertilidade da terra e dos animais e as boas colheitas.
Em todo o Barroso assim como nas zonas da serra do Gerês, acender fogueiras, dançar em volta do fogo e pular, era também nesse dia que se apanhavam determinadas plantas com qualidades mágicas e terapêuticas, que eram partes importantes dos cultos do solstício de verão, o costume acabou por ultrapassar os tempos e se manteve mesmo depois de oficializado o cristianismo.
Ora como pagãos ou cristãos, estes povos continuaram a ter enormes crenças e devoção perante as entidades superiores, continuaram a ser devotos, fizeram uma miscigenação de religiões e a cima de tudo adaptaram, e continuarão a fazer arriscadas peregrinações para ir visitar determinados locais, lugares, Santos, igrejas ir a festas religiosas, exemplo disso é a fonte Santa de Penacriva, que fica na freguesia de Cabril que tinha peregrinos de todo o Barroso e Galiza que vinham em busca da sua água, a qual atribuíam propriedades mágicas e curativas, nos dias de hoje ainda é procurada, isto não deixa de ser uma forma de paganismo, pois ele é fortemente caracterizado pelos cultos que esses povos prestavam a água e ao fogo.
As grandes travessias que eram feitas pela serra também não deixam de ser admiráveis, a Senhora da saúde do lugar de Xertelo, nos dias de festa também recebia e recebe-se bem que em menor quantidade peregrinos vindos pelo meio das montanhas do lugar de Pitões Das Júnias e de várias aldeias da Galiza.
Mas o mais impressionante é a devoção criada em torno da Senhora da Peneda nos Arcos de Valdevez, considerada uma das maiores romarias do norte e com origens pré cristãs, envolvendo peregrinos vindos de enormes distâncias pelo meio das montanhas e serras, principalmente das zonas da Peneda -Gerês, e Galegos da serra do Xurés, a festividade assenta num espaço natural de uma enorme beleza em frente de um imponente e magnífico afloramento rochoso de grandes dimensões, os povos aproveitavam para cantar e dançar até vir o dia ,muitas dessas caminhadas aconteciam de noite no meio da escuridão e dos uivos dos lobos ,muitos faziam dezenas de quilómetros, apesar de ter origens pré cristãs, e várias lendas , uma das lendas reporta – se a uma passagem entre 716 ou 717 em que os cristãos fugidos de uma invasão dos sarracenos, teriam deixado uma imagem entre as fragas da serra da Peneda.
Os povos de Cabril desde tempos imemoriais que fazem esta longa e sinuosa travessia pelo meio das serras do Gerês, Xurés e Peneda.
Cristãos ou Pagãos? É difícil de dizer, mas é sem dúvida uma fusão entre as duas, pois até as peregrinações a Santiago de Compostela tem uma origem muito anterior ao cristianismo, em que os povos vindos de toda a Europa se dirigiam a finisterra para ver pelo menos uma vez na vida o nascer e o por do sol, pois era considerado o fim do mundo pelos povos Pagãos.
ULISSES PEREIRA
* as fotos são da caminhada realizada pelas gentes de Cabril a Senhora da Peneda em que atravessam 3 serras e dezenas de quilómetros para lá chegar.