Num dos registos do processo de mudança da igreja é referido que era uma igreja muito pequena tendo quarenta e quatro palmos de comprido e vinte e dois de largo e a capela-mor dezasseis palmos. Com certeza que era constituída, como todas, pela capela-mor da obrigação do abade e pelo corpo da igreja, este da responsabilidade dos fregueses. As suas paredes seriam espessas, teriam uma porta principal e outra lateral e algumas frestas para entrada de luz e ar; o telhado seria de duas águas, forrado a madeira; o pavimento, tudo leva a crer que fosse em granito, em forma de ladrilho. Em suma, um edifício simples e pobre, mas que satisfazia as necessidades espirituais e sócio-religiosas da sua população.
Inicia-se o processo de mudança de lugar da igreja com um pedido dirigido ao Arcebispo de Braga em 30 de Junho de 1726, feito pelos moradores de Pincães e Fafião, no sentido de ser autorizada a construção de uma nova Igreja para uso dos dois lugares. Fundamentavam o pedido dizendo que a igreja estava situada num ponto muito distante e por caminhos muito ásperos pelo meio dos montes do Gerês, o que tornava um tormento o transporte dos defuntos dos ditos lugares para a igreja. Nos baptismos já tinham morrido algumas crianças com o frio das neves, e no inverno ninguém destes lugares ia à santa missa à Igreja matriz. Diziam também que os dois lugares tinham trinta e cinco fogos e que poderiam sustentar os gastos na edificação de uma nova igreja e garantir o sustento de um novo pároco. Apresentavam, como testemunhas das suas afirmações, alguns abades de freguesias vizinhas. Esta petição teve forte oposição do então abade de Cabril assim como um parecer desfavorável do abade visitador.
Os moradores de Pincães e Fafião apresentaram uma nova petição a 23 de Dezembro de 1727, insurgindo-se contra a informação do abade visitador. Afirmavam que o abade de Cabril se tinha ausentado para o Brasil sem a devida autorização do Arcebispo de Braga. Também diziam que a freguesia de Cabril era bastante rica para ser dividida por dois párocos. Se os seus argumentos não forem considerados, em alternativa que se mude a igreja para o vale de Cabril, que fica no centro da freguesia.
A petição de mudança é deferida a 14/02/1730, sendo pedido o parecer do abade de Cabril, entretanto regressado do Brasil. O parecer do dito abade foi favorável tendo um acórdão da Relação de Braga, em 01/08/1730 autorizada a mudança da igreja para o sítio do Covato, junto ao lugar de Cavalos, sítio escolhido pela maioria dos moradores de Cabril e seu abade. A petição acima referida é contestada pelos moradores dos lugares de S. Lourenço, Chelo, Xertelo, Azevedo e Lapela, ficando o processo de mudança vários anos suspenso.
Passados vinte anos em 10/10/1750, os moradores de Cabril apresentam uma provisão ao Arcebispo de Braga, dizendo que tinham alcançado na Relação de Braga uma sentença favorável, para mudarem a igreja matriz para o lugar de Cavalos, pedindo autorização para fazer a mudança e arruinarem a igreja antiga, aproveitando os materiais para a nova. A provisão é deferida em 15/12/1750.
António Gonçalves dos Santos, novo abade da freguesia de Cabril, e moradores apresentam uma petição pedindo a troca do sítio do Covato para o sítio do Outeiro, no lugar da Vila. Diziam que, no Covato, não tinham condições nem espaço para edificar a igreja, só se comprassem mais terreno a particulares. Mas, se a igreja fosse edificada no Outeiro, ficava muito mais bem situada e com menos encargos, porque esse terreno era da freguesia e ainda havia espaço próximo para fazer a residência do pároco. Pediam os suplicantes licença ao Arcebispo de Braga para se edificar a igreja no sítio do Outeiro no lugar da Vila. Depois do parecer favorável do abade visitador, a petição é deferida a 09/03/1752, sendo finalmente autorizada a edificação da nova igreja de São Lourenço de Cabril.
Em 06/12/1754, o abade de Cabril, António Gonçalves dos Santos pede autorização para ser benzido o corpo da igreja e mudar os santos e o sacrário da Igreja velha para a nova, pois já reuniam condições para a realização dos actos religiosos. A autorização é deferida em 10/12/1754. Em 12/06/1755, abade de Cabril faz a última provisão deste processo de mudança. Foi pedida autorização para benzer a capela-mor da igreja, na forma do ritual romano. Em 23/06/1755, é autorizada a provisão acima referida e devidamente registada, em 26/06/1755, no Registo Geral do Arcebispado de Braga. Ficou finalmente encerrado todo o processo de mudança de lugar da igreja matriz de São Lourenço de Cabril. Como se vê neste processo, a burocracia não é um fenómeno só dos nossos dias. Já em tempo antigo existia, tendo demorado trinta anos a fazer a mudança da Igreja. Mas valeu a pena esperar tantos anos. Foi edificada uma bonita e espaçosa igreja com a rica arte sacra de Braga do século XVIII. “
Pereira, Paleólego B.M. ( 2011 ) História e Património Religioso São Lourenço de Cabril Braga: s.n.